O Estado Português tem que desempenhar um papel determinante no domínio da informação Geo-espacial, estabelecendo uma estratégia nacional que, entre outras coisas, indique áreas prioritárias de informação, assegure a compatibilidade dos dados, congregue e responsabilize todos os intervenientes e evite a duplicação de investimentos na produção de informação Geo-espacial. Esta é uma das propostas de acção sugeridas no relatório ‘Geo-Competitivo’, apresentado recentemente pela APDSI.
Produzido ao longo de um ano, o documento quis identificar barreiras e oportunidades na utilização da informação Geo-espacial e, nas palavras de Mário Rui Gomes, coordenador do grupo de trabalho , pretende ser um ‘grito de alerta’, mais propriamente ‘o início de um grito de alerta’ para que alguma coisa seja feita nesta área, ‘sob pena de Portugal perder a ‘guerra’ da competitividade’, afirmou durante a apresentação do relatório.
O documento pretende, em primeiro lugar, sensibilizar o Estado para o facto desta área ser estratégica para o país, incidindo transversalmente em todos os níveis da Administração Pública. Neste sentido, o grupo de trabalho da APDSI apela ao Governo português para que defina requisitos de qualidade associados a critérios de utilização da informação Geo-espacial que possibilitem a integração eficaz dos dados que são continuamente produzidos de forma dispersa nos vários organismos da Administração Pública Central, Regional e Local, no âmbito do Plano Tecnológico. Para cumprir este objectivo deverá utilizar um único repositório dedicado, de entre as várias estruturas que possui.
A falta de uma cultura de colaboração, a falta de objectivos e a falta de ensino e de formação especializada foram as barreiras encontradas pelo grupo de trabalho da APDSI na área da informação Geo-espacial dentro da Administração Pública. Já a infra-estrutura nacional de informação Geo-espacial poderá deparar-se com alguns obstáculos. O primeiro deles é a inexistência de uma estratégia nesta área, enquanto os outros se verificam ao nível da informação de cidadania e no sentido de posse da informação.
‘Não existe uma partilha efectiva de informação entre departamentos, inclusivamente dentro da mesma instituição’, alerta Mário Rui Gomes .
Em outra das áreas chave identificadas, a do ensino da Ciência e Sistemas de Informação Geo-espacial, o Geo-Competitivo aponta igualmente barreiras tecnológicas, como a dificuldade de se garantir a integração das inovações que vão surgindo nas estruturas curriculares – devido à rapidez característica da área das tecnologias; institucionais, como a falta de incentivos ao desenvolvimento de uma infra-estrutura que suporte o ensino da Ciência e Sistemas de Informação Geo-espacial; e pedagógicas, de onde sobressai, inevitavelmente, a falta de docentes qualificados para o ensino desta matéria.
‘A introdução da informação Geo-espacial na Administração Pública e nas empresas deveria transformar a nossa maneira de olhar para os processos’, considera Marco Painho , um dos elementos do grupo, responsável pela apresentação das propostas de acção na área do ensino.
As propostas do relatório Geo-Competitivo na área do ensino passam pela promoção do debate em torno do ensino da Ciência e Sistema de Informação Geo-espacial no ensino superior, pela promoção da utilização de tecnologias de informação geográfica nas escolas do ensino básico e secundário e pela criação de condições para uma maior interoperabilidade no ensino da matéria.
Na opinião do grupo de trabalho da APDSI , o paradigma da utilização da informação Geo-espacial deve assentar em princípios como a disponibilização aos cidadãos da informação a baixo custo, a divulgação de ‘descritores’ do tipo de informação disponibilizada. O Geo-Competitivo propõe ainda o desenvolvimento de ‘produtos’ geradores de competitividade, como o Cadastro Multi-funcional ou a Base Nacional de Endereços.
‘A estratégia consiste em disponibilizar informação útil do território, de forma simples, estruturada e transversalmente a todas as áreas de actividade socio-económica. Esta simplicidade e ‘normalização’ no acesso à informação Geo-espacial, por um lado, racionalizará os investimentos feitos no passado pelo Estado Português em informação Geo-espacial, até ao momento, com fraca produtividade. Por outro lado, serão um catalisador da actividade económica porque aumentam exponencialmente a transparência de vários actos Administrativos, mitigando poderes construídos sobre informação ‘cifrada’ e, consequentemente, contribuindo para libertar energias que derrubem várias barreiras que hoje se erguem ao aumento da competitividade nacional’, pode ler-se no sumário executivo do documento.
Para o grupo de trabalho, o momento é de ‘actuação’ no que diz respeito à Informação Geo-espacial. Com o documento produzido tenta, por isso, sensibilizar a governação para a implementação de medidas que visam aumentar a eficácia da Administração Pública, incentivar a partilha de Informação Geo-espacial entre as várias entidades públicas e identificar as responsabilidades de aquisição e manutenção dos dados Geo-espaciais.
‘Prevê-se que estas medidas conduzam a um aumento da eficácia dos serviços que utilizem a informação Geo-espacial de forma adequada, bem como à redução de custos de aquisição de informação Geo-espacial, entre outras razões, pela eliminação de redundâncias’, refere-se nas conclusões do documento.
Fonte: APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação
2006-01-16
Em Foco – Opinião