«Ao contrário de tecnologias anteriores, as chamadas novas tecnologias, onde a Internet assume o papel principal, têm potencial para introduzir mudanças estruturais no tradicional sistema educativo». Esta foi uma das ideias comuns defendidas na conferência e-Educação: O que tem o sector da educação a ganhar com o desenvolvimento da Sociedade da Informação, promovida pela APDSI .
Este ‘valor transformador’ da Internet poderá basear-se na sua semelhança com o conceito de biblioteca, como sugeriu Roberto Carneiro, coordenador deste encontro, mas está igualmente fundamentada na capacidade que a Web tem como interface para a criação de novas formas de agrupamento, novas formas de trabalhar em conjunto e, por sua vez, para o desenvolvimento de ‘comunidades de aprendizagem’, segundo acredita Paulo Dias, da Universidade do Minho .
O esforço de equipamento das instituições de ensino com computadores e ligações à Internet foi, e continua a ser por esta razão, necessário, mas esta é também a parte mais fácil na aproximação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) ao sistema educativo, como pareceram concordar todos os intervenientes deste seminário. «Mais difícil será a ‘intrusão’ das TIC na prática pedagógica», como sublinhou José Dias Coelho, presidente da Direcção da APDSI , logo na Sessão de Abertura.
Também é verdade que as novas tecnologias terão que combater uma «extraordinária resiliência» do sistema educativo, uma «cultura de séculos» que não se conseguirá descongelar em segundos, «houvesse micro-ondas que comportasse o sistema educativo português», ironizou Roberto Carneiro . A escola tradicional assenta em pressupostos que entram em conflito com alguns dos objectivos para o futuro, como o facto de ter sido instituída com base em «ecnologia humanas»- interacção de pessoas -, de ter um sentido profundamente preservador e de assentar numa economia de escala pelo lado do ensino e não pelo lado da aprendizagem.
«A nossa escola foi criada para ser estável, repetitiva, para inspirar segurança e agora pedimos-lhe que seja instável, que corra riscos; pedimos um sistema educativo que tenha mais em conta o projecto e menos o arquétipo», referiu Roberto Carneiro . No discurso de conclusão que efectuou, o ex-ministro da educação fez questão de salientar que a transformação pela qual está a passar tem que levar a escola a pensar naquilo que tem a perder se não assimilar o melhor que a Sociedade da Informação tem para oferecer.
Já na sessão de encerramento do seminário, Roberto Carneiro lembrou ainda que a mudança estrutural do sistema educativo também não será possível sem o recurso às parcerias com outras instituições que se relacionem com esta área, tal como outros intervenientes defenderam ao longo do encontro e, essencialmente, também não será viável se os portugueses se continuarem a mostrar cépticos quanto aos projectos nacionais que vão sendo desenvolvidos. «Só poderemos conduzir esta transformação com auto-estima», aconselhou.
Ideias chave
· · No processo de aproximação das TIC ao sistema educativo, o mais difícil não é equipar a escola com PCs, mas sim a intrusão das TIC na prática educativa
· · As TIC têm um valor transformador que não tiveram tecnologias anteriores, como a rádio ou a televisão
· · Não podemos exigir mudanças bruscas de paradigma às escolas – Quaisquer mudanças que possam acontecer não serão possíveis sem alianças estratégicas
· · A transformação está iniciada: as tecnologias já mudaram o discurso das escolas, o modo de pensar e o modo de construir conhecimentos
· · A tecnologia não deverá ser um mero espaço de apresentação de conteúdos, mas sim um instrumento privilegiado para a gestão da construção do conhecimento
· · Tecnologia sim, mas de rosto humano
· · O recurso às tecnologias é uma finalidade. As ideias devem durar para além das técnicas
· · Não devemos colocar jovens à frente das máquinas mais potentes para fazerem o mesmo que faziam antes
· · Alteração do conceito de turma em comunidade de aprendizagem
· · Não podemos ter uma escola onde só se ensina e não se aprende
· · É necessário preparar os alunos para aprender a aprender, para aprender ao longo da vida
A conferência decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, a 8 e 9 de Março, sob a organização da APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação.
Fonte: APDSI
2005-03-23
Notícias – Indústria