2240 — Uma nova perspectiva analítica. Por Kemal Delic, Hewlett-Packard R&D

Jul 10, 2003 | Conteúdos Em Português

Durante os primeiros 50 anos da história da computação assistimos à propagação dos computadores pelos vários domínios de negócio. Acreditamos que esta evolução conduzirá a um melhor uso dos sistemas analíticos interoperantes dentro das empresas. Por outras palavras, o cenário de plataformas CRM, ERP, EAI e aplicações de gestão do conhecimento todas interligadas por ferramentas analíticas. Prevemos a metamorfose das empresas de hoje em dia para organizações mais inteligentes que irão operar em vários mercados que espelhem os ecossistemas naturais, desenvolvendo-se e adaptando-se numa constante luta pela sobrevivência.

As empresas de hoje em dia funcionam permanentemente sob um infindável fluxo de eventos que culminam com o fecho de uma transacção ou com uma reacção aos eventos iniciais. Os repositórios de dados e informação e outro tipo de registos capturam essas transacções e eventos, preparando, desta forma, o terreno para aplicações mais sofisticadas, nomeadamente ferramentas analíticas.

As grandes empresas operam hoje com grandes volumes de dados e dinâmicas de negócio bastante agitadas. Transferem diariamente terabits de dados ao mesmo tempo que acumulam terabits de dados e informação e que se deparam com os ‘teraflops’ das suas máquinas. Para funcionarem de forma harmoniosa, as empresas devem construir cuidadosamente as suas arquitecturas por forma a gerirem diferentes níveis de informação como sejam a gestão de eventos, o processamento de transacções e de análise.

Hoje em dia, a maior parte das abordagens à analítica empresarial parte de dentro para fora, isto é, da perspectiva dos dados e das fontes de informação. Sugerimos que se faça o contrário, isto é, partir das necessidades reais dos utilizadores e da análise dos mecanismos que os levam à tomada de decisão.

Modelizando a complexidade. Algumas abordagens

As empresas são sistemas bastante complexos, difíceis de gerir e de modelizar. No entanto é possível modelizar as empresas a fim de se perceber melhor como geri-las e como melhorar a sua performance. A nossa experiência diz-nos que pelo menos dois terços da complexidade empresarial se prendem com questões de organização e um terços com questões relacionadas com TI.

Podemos estratificar, de uma forma holística e abstracta, as empresas em três camadas:

1. Negócio
2. Ferramentas e sistemas
3. Dados e informação

Nesta visão simplificada, os sistemas de TI nas camadas 2 e 3 funcionam como mediadores, servindo de fio condutor à monitorização das operações de negócio  que visam optimizar um conjunto limitado de parâmetros, como sejam as receitas, o lucro, o crescimento e a posição de mercado.

Uma segunda forma de analisar uma empresa é dividi-la em duas partes distintas: a parte estática ou com poucas alterações (como a infra-estrutura de TI) e a parte dinâmica (como o número infindável de parâmetros operacionais). Ambas as partes são críticas no que toca ao suporte à decisão dentro da empresa.

Um desafio primordial para os executivos de topo é o facto de terem de lidar atempadamente com uma parafernália de dados não estruturados e com todo um conjunto imperfeito de informação. Os gestores e os analistas são expostos a artefactos analíticos criados a partir de gigabytes de dados antes de tomarem decisões. Finalmente, os empregados na base da pirâmide encontram também um fluxo diário de megabytes de dados multimédia e de informação.

A experiência evidencia que estes três grupos tomam, respectivamente, decisões intuitivas, racionais e rotineiras (ver Figura 1 ).

Os sistemas analíticos no suporte à decisão

Em termos práticos, o sistema de suporte à decisão pode implicar que os decisores sejam expostos a expectativas e previsões para que possam racionalizar as suas opções. Para que se possa prever cenários e consequências possíveis é necessário que se tenham em conta as expectativas dos utilizadores. Por exemplo, os modelos causa-efeito irão certamente conduzir a previsões. O acaso é um factor de peso na previsão, tornando a criação de sistemas de suporte à decisão numa tarefa difícil e complexa.

Podemos considerar tipicamente três grupos de utilizadores:

Os executivos são empregados de topo responsáveis pelas decisões estratégicas. Talvez sem se aperceberem, digerem uma grande quantidade de dados e de informação para tomarem uma decisão estratégica, por exemplo, sobre a melhor forma de aumentar a rentabilidade dos clientes da empresa.

Os executivos também tomam decisões intuitivas a partir dos dados internos mas também de informação externa relativa ao mercado e aos pontos de vista dos fornecedores e parceiros. O horizonte temporal para a tomada de decisão estratégica é normalmente semanas ou meses.

Os gestores e analistas são empregados especializados responsáveis por decisões tácticas. Tomam decisões relativas à melhor forma de optimizar o cash-flow, por exemplo, mas digerem um conjunto de dados e de informação relativamente modesto. São normalmente decisores racionais e o seu horizonte típico de tomada de decisão é normalmente dias ou semanas.

Os empregados tomam decisões rotineiras sobre a melhor forma de optimizar, por exemplo, os custos com comunicações, digerindo um conjunto limitado de dados e informação relacionados com o seu domínio. Os empregados têm normalmente um frame temporal de horas ou dias.

Os diferentes utilizadores da analítica empresarial usam diferentes artefactos informacionais. Os executivos de topo e os analistas necessitam normalmente de conteúdo interactivo, enquanto a esmagadora maioria dos empregados requer apenas conteúdo passivo (ou estático).

As estes diferentes tipos de utilizadores correspondem também diferentes perfis de utilização. Os analistas necessitam normalmente de uma infra-estrutura cliente/servidor poderosa, os gestores acedem aos dados através de um dispositivo móvel ligado à web, enquanto os demais empregados acedem aos dados através dos seus desktops. Estas considerações são de extrema importância para o desenho da arquitectura de sistemas analíticos.

A arquitectura

O resultado de uma operação analítica deve ser distribuído através de um gráfico estático ou interactivo, documento, programa, simulação ou modelo. Alguns destes outputs são passivos enquanto outros serão mais interactivos. Alguns podem ser distribuídos através de um único servidor analítico, enquanto outros irão requerer um mainframe topo de gama.

Tipicamente, a robustez da máquina e os recursos envolvidos são inversamente proporcionais ao volume de informação distribuída. Alguns fabricantes de software de BI já conseguem fazer com que dezenas de milhar de itens de informação analítica cheguem aos desktops dos empregados da organização.

O propósito dos sistemas analíticos varia muito, desde a obtenção de uma visão holística da empresa e dos seus subsistemas até às tarefas de optimização e previsão. A utilização mais comum destas ferramentas consiste na identificação e na redução dos vários factores de ineficiência, levando à optimização da performance global da empresa. De uma forma muito abstracta, a empresa pode ser dissecada nas camadas de evento, transacção e análise, tendo cada uma propósitos, objectivos e constrangimentos diferentes (ver Figura 2 ).

Olhando para a Figura 2, podemos constatar que as interacções com os clientes, parceiros e fornecedores criam um fluxo constante de negócio e de eventos que devem ser rigorosa e atempadamente encaminhados para as aplicações de gestão de eventos. A arquitectura de TI deve endereçar os eventos que irão permitir a gestão e a monitorização do ‘tecido tecnológico’: rede, routers, switches, servidores, sistemas operativos, aplicações, computadores desktop, notebooks e dispositivos móveis.

As aplicações transaccionais agregam, transformam e capturam uma fracção deste fluxo infindável de eventos como transacções. Os processos de negócio são também uma parte crítica das operações empresariais. Eles criam um conjunto de registos transaccionais inter-relacionados guiados normalmente pela política estabelecida dentro da empresa. A consistência e a recuperação transaccional são características necessárias desta camada intermédia, assumindo um papel crucial nos processos de billing e auditoria, por exemplo.

As aplicações analíticas operam a partir de dados agregados e de conjuntos de informação. Elas implementam algoritmos sofisticados em repositórios de dados especializados, como sejam data marts, datawarehouses, e outras bases de conhecimento, com o propósito de distribuir análise através do canal mais apropriado.
Os portais corporativos são ferramentas de distribuição de informação para uma população de utilizadores distinta entre si. Os sistemas analíticos empresariais devem contribuir para um melhor processo de tomada de decisão a todos os níveis: desde as rotineiras decisões diárias até às mudanças estratégicas e paradigmáticas.

Os subsistemas relacionados com os eventos, as transacções e a analítica empresarial estabelecem o ponto de contacto, de coordenação e de cooperação da empresa com o mercado e os fornecedores. Eles são criados em plataformas heterogéneas, as quais carecem ainda pungentemente de standards de interoperabilidade.

Os Web Services estão a endereçar a necessidade de standards e de interoperabilidade de uma forma inovadora, embora a proliferação de standards proprietários continue. O funcionamento dos sistemas analíticos é baseado no avanço dos vários domínios da computação, especialmente marcado pelos desenvolvimentos no data mining e no Business Intelligence.

Desenvolvimentos tecnológicos

A fonte da maior parte das tecnologias analíticas de hoje em dia reside na teoria da pesquisa de informação e na inteligência artificial, a qual ajudou a criar o data mining, o datawarehousing, o OLAP e o Business Intelligence. Estas tecnologias acolheram também os avanços em hardware e nos métodos melhorados de criação de software, o que conduziu à elaboração de poderosas superestruturas.

Estes programas dinâmicos tiveram mais tarde aplicação em simulações em larga escala, e em modelização do mundo real para previsão do estado do tempo, simulações de tráfego e análise financeira.

À medida que os sistemas analíticos saem do campo da investigação, os requisitos específicos da indústria irão começar a exigir especialização bem como novos métodos e abordagens.

É provável que estes avanços estimulem a criação de tecnologias que melhor sirvam as necessidades da analítica empresarial. Acreditamos que iremos assistir ao desenvolvimento de uma arquitectura analítica distinta , tal como se verificou quando a indústria respondeu à necessidade de gerir eventos e transacções.

A tecnologia de futuro irá suportar o conjunto de ferramentas analíticas e de métodos que analisem o passado, avaliem o presente e prevejam o futuro de acordo com parâmetros-chave de negócio.

Kemal Delic
2003-07-10

Traduzido e adaptado de Intelligent Enterprise

Centro de Informação-DATABASE & BUSINESS INTELLIGE