Os trabalhos da manhã do terceiro dia do 12.º Congresso da APDC, que termina esta tarde, iniciaram-se com uma intervenção do ministro da Economia, Carlos Tavares, que contou ainda com a presença na mesa do presidente do Congresso, António Lobo Xavier, e do Presidente da Direcção da APDC, Luís Ribeiro.
Carlos Tavares lembrou que os últimos dois anos têm sido duros para os agentes económicos em geral e, em particular, para as empresas das comunicações. Apesar de tudo, segundo este governante, a fase menos boa que agora se atravessa deve ser encarada como um desafio para as empresas descobrirem novas soluções que permitam encontrar modelos económicos que sejam viáveis no quadro europeu.
E o esforço do sector tecnológico, em particular, de acordo com o mesmo orador, torna-se essencial para ajudar a operar a necessária mudança das condições económicas do país. E deu como exemplo o caso da Administração Pública como um potencial cliente das tecnologias que ajudem a melhorar o seu desempenho.
Na sua intervenção o Ministro da Economia anunciou que as linhas gerais de actuação do Governo, em termos de Sociedade da Informação, passam por uma aposta nas novas tecnologias da informação e da comunicação como uma oportunidade para alterar as relações do Estado com os cidadãos.
Nesta esteira, a actuação do Governo irá privilegiar os esforços para a Sociedade de Informação em Portugal através da aposta em quatro vectores essenciais: a regulamentação; a regulação, a concorrência e a venda da rede básica.
A nível da Regulamentação, irá proceder-se à transposição do novo quadro regulamentar europeu para o sistema legal português, até Julho de 2003. No que concerne à Regulação, será preciso reconhecer o papel da Anacom como regulador vertical. Já no que diz respeito à Concorrência, irá ser criado um regulador da concorrência, para operar uma regulação transversal da actividade económica, que deverá iniciar funções no primeiro trimestre de 2003.
Finalmente, no que diz respeito à venda da rede básica, que Carlos Tavares prefere chamar alienação definitiva, perfila-se como a melhor opção para garantir que esta infra-estrutura não deixe de ser objecto de investimento em inovação tecnológica por parte da actual concessionária, para sustentar o desenvolvimento da capacidade competitiva do país.
Fabricantes apostam na inovação e nos serviços
Logo após a intervenção de Carlos Tavares realizou-se a primeira sessão de trabalhos do dia, com o painel dedicado à Indústria, onde participaram Francisco Lopes, da Siemens, José Horta e Costa, da Nokia, Hans Erhard-Reiter, da Ericsson, Rui Candeias Fernandes, da Alcatel, bem como Toshiyuki Mineno e José Oliveira, ambos em representação da NEC. Na dupla função de key-note speaker e de moderador esteve João Baptista, da Mercer Management Consulting.
O consultor da Mercer percorreu algumas das causas geralmente apontadas pelos analistas para explicar a recente crise que se instalou no sector das empresas tecnológicas, que se dividem geralmente entre a atribuição dessas causas a fenómenos cíclicos da economia ou a uma questão de falha concorrencial.
João Baptista adiantou que não se trata nem de uma nem de outra isoladamente, esclarecendo que se por um lado, há possibilidades de retoma, por outro, há sinais claros de que alguns dos desafios actuais do mercado não devem desaparecer. Há que assumir que certas zonas de negócio serão estruturalmente não rentáveis, por força da limitação da elasticidade da procura versus preço. Por outro lado, o orçamento dos consumidores é limitado e tendencialmente fixo, além de que o potencial de pura penetração, em muitos mercados, já atingiu o nível da saturação.
Para o futuro, este consultor sugeriu que o crescimento económico das empresas deverá ser arquitectado através de uma estratégia que coloque particular ênfase nos clientes rentáveis, na aposta de criação de ferramentas e competências para ambientes de margens reduzidas, na identificação das zonas estratégicas para o negócio de cada organização, e essencialmente, em muita capacidade de inovação com o potencial de acrescentar valor nos serviços ao cliente.
Francisco Lopes da Siemens, defendeu que uma estratégia possível de crescimento, no negócio dos terminais de comunicações móveis, seria convencer cada consumidor a adquirir mais de um terminal por cada subscrição. Segundo este responsável, esta estratégia não é tão absurda caso se note que é vulgar as famílias terem mais do que uma televisão, automóvel, etc. E a questão do preço ou das dimensões reduzidas dos terminais, finalmente, também não é a mais relevante, dado que os actuais best-sellers do mercado são precisamente os mais caros e de dimensões médias.
José Horta e Costa da Nokia por sua vez, defendeu uma estratégia que privilegia o trabalho da empresa junto de operadores e parceiros tecnológicos e de media, no sentido de criar e desenvolver novas aplicações, mais funcionais e apelativas para os clientes. Paralelamente, a Nokia investe bastante no desenvolvimento de terminais com funções acrescidas, com especial enfoque no alargamento das capacidades de memória dos terminais.
Hans Erhard-Reiter da Ericsson deu algumas perspectivas futuras divergentes das apresentadas pelos anteriores oradores, no que diz respeito aos fabricantes. Segundo este responsável, as actuais redes móveis estão longe de estar sobrecapacitadas, tendo mesmo vindo a deteriorar-se a sua capacidade nos últimos dois anos. No que respeita a terminais, aquele responsável estima que em 2007 deverá haver uma penetração mundial na ordem dos 80%, notando que, actualmente, esse indicador não vai além dos 17%.
Finalmente, e ainda em termos de redes móveis, Hans Erhard-Reiter recordou que o consumo de comunicações, em minutos, se encontra ainda algo abaixo do verificado nas redes fixas, em termos globais. Nesta sequência, o orador mostrou-se confiante no futuro dos fabricantes de telecomunicações, não só na área da mobilidade, como também na da banda larga e das redes locais sem fios, que deverão complementar a transição 2G e 3G, além de potenciar soluções fixo/móvel.
Investimentos em banda larga são estratégicos para recuperação económica
Rui Candeias Fernandes da Alcatel, por sua vez, defendeu que os investimentos em banda larga e na terceira geração móvel são aspectos fundamentais e estratégicos para a recuperação económica. No caso da banda larga, segundo este responsável, os acessos ADSL representam já 54% do total, e é de todas as tecnologias a que regista a maior taxa anual de crescimento. Para este orador, a aposta no ADSL deve igualmente passar pelo investimento na componente de serviços ao cliente, que será aquela que poderá gerar maiores margens de lucro para os operadores, dado que as componentes de acesso e de transmissão terão margens tendencialmente marginais.
Toshiuky Mineno da NEC, que repartiu a sua intervenção com o seu colega José Oliveira, fez uma breve exposição do caso de estudo I-Mode, de grande sucesso no Japão, com cerca de 58 milhões de utilizadores (46% de penetração), para demonstrar que os atrasos da 3G podem bem ser aproveitados pelos operadores móveis e pelos fabricantes para investir de forma mais decisiva na geração intermédia (2,5G).
Este responsável daquela empresa nipónica sugeriu que se aprendesse com os casos de insucesso na Europa e no Japão nas redes móveis (WAP-GSM e FOMA-3G), por forma a descobrir os factores críticos de sucesso para a 3G: Cobertura extensiva, Killer Applications, variedade de terminais e preços razoáveis. José Oliveira sublinhou igualmente que a inovação tecnológica é um imperativo estratégico neste sector, considerando mesmo que a inovação permanente é a melhor alavanca para o sector das TMTs, sobretudo em Portugal.
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